É preciso monitorar e limitar o tempo de uso das tecnologias que nossas crianças têm em mãos hoje.
Enquanto não temos um exemplo do resultado, temos que estar atentos e refletir sobre como não impedir o desenvolvimento da aprendizagem e da criatividade.
Um alerta aos pais!
POR QUE PAIS DO VALE DO SILÍCIO ESTÃO RESTRINGINDO USO DE CELULARES E TABLETS PELOS FILHOS
Colleen Hagerty, BBC News, San Francisco Bay, 11 junho 2019
‘Você não ensina como ser criativo apenas entrando em um app de criatividade’, diz um pai que limita a quantidade de tempo que o filho pode passar em frente a telas
Alguns dos criadores de tecnologias e apps que dominam nosso dia a dia parecem determinados a manter seus filhos longe das telas de celulares e tablets.
Entre a geração de empreendedores do Vale do Silício que criaram as maiores empresas de tecnologia do mundo, muitos estão se tornando pais. E alguns estão restringindo o acesso das crianças a ferramentas de que muitos de nós abusamos.
O criador da Apple, Steve Jobs, admitiu em 2011 que ele e sua esposa, Laurene Powell, limitavam o acesso dos filhos à tecnologia dentro de casa.
O fundador da Microsoft, Bill Gates, também é conhecido por restringir o tempo em frente a telas e por banir celulares na mesa de jantar.
Já Mark Zuckerberg, do Facebook, escreveu uma carta para sua filha recém-nascida, em 2017, pedindo que ela “saísse de casa e brincasse”.
Mas por que esses pais do Vale do Silício estão mantendo seus filhos longe das telas?
INFÂNCIA LIVRE DE TECNOLOGIA
Pierre Lauren é um executivo do setor de tecnologia no Vale do Silício e diretor de uma escola Waldorf na região – uma escola privada, popular no Vale do Silício, que evita o uso de tecnologia até que os alunos cheguem aos dez anos.
Educador diz que as crianças precisam ter experiências na vida real
Laurent, cujos três filhos frequentam a escola, conta para a BBC que três de cada quatro pais com filhos na Waldorf trabalham com tecnologia. A escola recomenda que prestem atenção nos efeitos nocivos da tecnologia no processo de aprendizagem das crianças.
“Quando você é criança, você não pode aprender a partir de um pequeno pedaço de vidro. Você precisa estimular os seus sentidos, você precisa alimentar o cérebro com tudo que puder”, afirma Laurent.
CONTRADIÇÃO APARENTE
A Waldorf da região ganhou os holofotes pela primeira vez quando a imprensa começou a apontar essa aparente contradição do Vale do Silício.
É justamente ali – no principal centro nervoso do setor de tecnologia no mundo – que encontramos uma escola que defende o que chama de “uma educação holística para o coração e a mente”.
O currículo escolar da Waldorf é focado em “habilidades do século 21”, como confiança e auto-disciplina, pensamento independente, trabalho em equipe e expressão artística.
“Essas capacidades humanas não se desenvolvem em frente a uma tela. Você precisa estar engajado em fazer e construir coisas você mesmo”, fala Laurent.
Muitos pais mantêm os filhos ocupados com tecnologia enquanto cuidam da casa ou trabalham
TECNOLOGIA NA SALA DE AULA
Apesar dessa mensagem ter cada vez mais espaço na nova geração de pais do Vale do Silício, muitos outros acreditam que a tecnologia é, sim, necessária para o século 21 – tanto para o aprendizado dentro da sala de aula quanto para uma pessoa se tornar bem-sucedida no mercado.
Merve Lapus é diretor sênior da Common Sense Media, uma organização que aconselha famílias sobre tecnologia e entretenimento digital. Ele passou quase uma década analisando e dando conselhos para pais sobre os potenciais benefícios e riscos do uso da tecnologia na sala de aula.
“Sim, a tecnologia pode se tornar uma distração, então o que podemos fazer contra isso? Porque há muita oportunidade (para as crianças usarem tecnologia), mas também (há o fato de que precisamos) prepará-las para o mundo real, que vai exigir o uso de muitas dessas ferramentas”, diz ele.
Não é preciso remover completamente a tecnologia do convívio das crianças, diz Laurent
PONTO DE EQUILÍBRIO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, recentemente, novas recomendações diminuindo o tempo indicado para crianças passarem em frente às telas.
Crianças com até dois anos não devem ser deixadas passivamente em frente à TV ou outras telas, recomenda a OMS. Já o limite para crianças entre dois e quatro anos é uma hora por dia ou menos.
Mas Lapus pondera que não se deve julgar todo o tempo passado em frente a telas da mesma forma. E cita os próprios desafios que enfrenta para criar seus dois filhos, de seis e oito anos.
“Eles não deveriam ficar em frente a telas tão cedo”, admite. “Mas a realidade é que eu tenho de cozinhar o jantar. E a Vila Sésamo era uma ótima forma de ficarem concentrados. Eu podia colocar comida na mesa. E eles podiam assistir a Vila Sésamo. E, como pai, eu assumia a tarefa de perguntar o que eles haviam aprendido (no que haviam visto).”
Enquanto o tempo que as crianças passam em frente a telas continua sendo um assunto em aberto, Laurent acredita que limitar o uso de tecnologia não significa restringir o acesso por completo. “Não quer dizer que precisamos afastar (a tecnologia) totalmente e dizer que nunca vamos usar um computador em nossas vidas.”
“Significa entender quando é uma boa ideia (usar a tecnologia) e qual é a idade em que a criança tem capacidade de lidar com isso”, explica Lapus.
Extraído de https://www.bbc.com/portuguese/geral-48586734.amp
ESCOLAS NO VALE DO SILÍCIO NÃO USAM COMPUTADORES E TABLETS
Alguns pais avaliam que o benefício na educação é limitado e o risco de dependência é alto
17.4.2019 | ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE
CRIANÇAS NORTE-AMERICANAS DE ZERO A OITO ANOS PASSARAM, EM MÉDIA, 48 MINUTOS POR DIA NO CELULAR EM 2017 (FOTO: GETTY IMAGES VIA BBC)
Filhos de executivos de grandes empresas do Vale do Silício (EUA) crescem em um dos centros que está transformando a sociedade do século XXI. Mas se engana quem pensa que essas crianças aprendem com tablets e computadores de última geração. Cresce na região a oferta de escolas do ensino fundamental onde alunos estudam da mesma forma que seus pais, décadas atrás: só com lápis, borracha e papel.
Em certas escolas de Palo Alto, nem mesmo livros didáticos são impressos — são as próprias crianças que elaboram o conteudo à mão. No Brasil, a Waldorf of Peninsula, escola particular, telas de computador e gadgets só entram nas salas de aula quando os jovens chegam ao ensino médio.
“O que desencadeia o aprendizado é a emoção, e são os seres humanos que produzem essa emoção, não as máquinas. Criatividade é algo essencialmente humano. Se você coloca uma tela diante de uma criança pequena, você limita suas habilidades motoras, sua tendência a se expandir, sua capacidade de concentração. Não há muitas certezas em tudo isso. Teremos as respostas daqui a 15 anos, quando essas crianças forem adultas. Mas queremos correr o risco? “, questiona Pierre Laurent, presidente do conselho da escola Waldorf e engenheiro de computação que trabalhou na Microsoft e na Intel.
O engenheiro destaca o que parece ter virado consenso no Vale do Silício: os adultos querem que seus filhos se afastem de aparelhos tecnológicos na infância por avaliarem que o benefício de gadgets na educação é limitado e o risco de dependência é alto.
Bill Gates, por exemplo, criou regras para uso de tecnologia em sua casa. O cofundador da Microsoft declarou impor limites durante a criação dos filhos. Até os 14 anos, seus três herdeiros não tiveram o próprio celular. “Eles reclamavam que as outras crianças já tinham”, disse em entrevista ao Mirror.
Os filhos de Gates, hoje, têm 15 ,18 e 21 anos. Assim, os aparelhos já foram liberados para todos, mas não durante as refeições — isso também se aplica aos adultos. E eles também foram criados com regras sobre o uso perto do horário de dormir.
TECNOLOGIA COMO VÍCIO
Para especialistas, o problema da relação das crianças com a tecnologia é que seu uso se transforme em vício. Pesquisa da Common Sense Media aponta que crianças norte-americanas de zero a oito anos passaram, em média, 48 minutos por dia no celular em 2017, três vezes mais que em 2013 e 10 vezes mais que em 2011.
Controlar a rotina dos filhos é ainda mais difícil quando os pais trabalham fora. Segundo a pesquisa, adolescentes de famílias de baixa renda gastam duas horas e 45 minutos por dia a mais em computadores e gadgets do que aqueles de famílias de alta renda.
Para frear essa tendência, dois grandes investidores da Apple, Jana Partners e CalSTRS (fundo de aposentadoria de professores da Califórnia), enviaram uma carta aberta aos líderes da companhia pedindo que atuem contra o vício das crianças em celulares. “Analisamos as evidências e acreditamos que há uma clara necessidade da Apple de oferecer aos pais mais opções e ferramentas para ajudá-los a garantir que os jovens consumidores usem seus produtos da melhor forma”, escreveram eles.
Em resposta ao pedido, a Apple apresentou o Screen Time — ferramenta que ajuda a controlar e limitar o uso de dispositivos móveis. Para não perder mercado, o Google incorporou uma ferramenta semelhante, o Digital Wellbeing.
Para os críticos, contudo, os sistemas não atacam a raiz do problema: a natureza viciante dos equipamentos tecnológicos. Até que isso seja solucionado, os pais serão responsáveis pela orientação dos filhos nesta era digital.